O debate sobre a ampliação da infraestrutura dutoviária no Brasil ganhou força em 2021, quando projetos de novos gasodutos voltaram ao centro das discussões setoriais, destaca Paulo Roberto Gomes Fernandes. Entre posicionamentos divergentes sobre a MP da Eletrobras e a instalação de térmicas em regiões sem oferta de gás, um ponto chamou atenção: a possibilidade de o país adotar dutos aparentes como alternativa mais rápida, econômica e segura para expandir sua malha.
Essa visão é defendida há mais de uma década por Paulo Roberto Gomes Fernandes, presidente da Liderroll, que se tornou uma das vozes mais técnicas na discussão sobre revisão de métodos construtivos no setor. Para ele, a insistência no modelo de dutos enterrados, mantido há mais de 80 anos, deixou de acompanhar a evolução tecnológica e representa custos elevados, riscos operacionais e maior impacto ambiental.
Por que rever o modelo tradicional?
O método convencional, tubulações enterradas e obras de grande porte, carrega limitações conhecidas pela indústria. Paulo Roberto Gomes Fernandes aponta que, além de onerosos, esses sistemas estão mais expostos a fatores que comprometem sua integridade:
- corrosão acelerada pelo contato contínuo com o solo;
- dificuldades em inspeções e manutenção;
- riscos em cruzamentos especiais, áreas alagadas e lençóis freáticos;
- maior probabilidade de furtos e derivações clandestinas;
- forte impacto ambiental na abertura de faixas extensas.
A Liderroll, que desenvolveu tecnologias de suporte, roletes motrizes e soluções modulares premiadas internacionalmente, afirma ter estudos que comprovam ganhos concretos de escala e durabilidade em estruturas expostas, sobretudo em longos trechos lineares.
Transporte de grãos por dutos: uma alternativa estratégica
Paulo Roberto Gomes Fernandes também destaca que a lógica dos dutos aparentes não se limita ao setor energético. Em suas projeções, o agronegócio teria ganhos expressivos se aderissem ao transporte de grãos por tubulações:
- custos logísticos menores;
- escoamento direto até portos;
- redução significativa das perdas registradas hoje nas rodovias;
- menos pressão sobre estradas e caminhões;
- maior previsibilidade de fluxo, independentemente do clima.

Segundo Paulo Roberto Gomes Fernandes, a perda estimada de 30% nas safras de milho e soja durante o transporte terrestre, causada por estradas precárias, longos deslocamentos e manuseio excessivo, poderia ser significativamente reduzida com corredores dutoviários.
O momento do país e os projetos em discussão
A EPE (Empresa de Pesquisa Energética) mantém diversas propostas para expandir a malha de gás, especialmente no Nordeste e no Centro-Oeste. Os mapas estudados incluem:
- Ribeirão Preto (SP)
- Uberaba e Uberlândia (MG)
- Itumbiara, Goiânia e Anápolis (GO)
- Brasília (DF)
- Cuiabá e Campo Grande (MS)
- Interior do Mato Grosso
Há ainda projetos estratégicos, como:
- o Gasoduto do Meio-Norte, ligando Caucaia (CE) a São Luís (MA), passando por Teresina;
- ramais que podem atender o Triângulo Mineiro mediante a expansão de térmicas;
- possibilidades de conexão com Porto Velho, favorecendo antigas propostas de integração com as reservas de Urucu.
A discussão sobre esses empreendimentos evidencia que os custos elevados e a complexidade das obras são gargalos conhecidos. É justamente nesse ponto que a proposta dos dutos aparentes ganha tração entre alguns especialistas: construção mais rápida, menor impacto ambiental e redução substancial no investimento inicial.
Um debate que tende a crescer
Enquanto entidades como a Firjan demonstraram preocupações com a definição de locais das térmicas e seus efeitos sobre a competitividade, outros setores viram no cenário uma janela estratégica para discutir novos paradigmas construtivos. A visão defendida por Paulo Roberto Gomes Fernandes e pela Liderroll coloca o Brasil diante de uma pergunta essencial: manter um modelo consolidado, porém oneroso, ou abrir espaço para soluções mais modernas e amplamente utilizadas em outros países?
A discussão permanece aberta, mas os argumentos ganham consistência em meio à necessidade crescente de infraestrutura, à pressão por eficiência logística e à busca por alternativas ambientais menos agressivas.
Autor: Demidov Turgueniev